terça-feira, 5 de agosto de 2008

6G Sétimo Conto: Tortura

Trilha Sonora - 30 Seconds To Mars - Hunter

Ela estava em uma posição de desvantagem, em frente àquela criatura nunca antes vista, não enquanto ela estava viva.
Suas roupas estavam esfarrapadas e sujas de lama e pó.
Seus pés e pernas desprotegidos rasgavam-se em feridas que ardiam e sangravam.
Ela nunca imaginou que seria torturada daquela maneira.
E não foi algo que ela soubesse que levasse àquele sofrimento, era algo que ela não fez.
Sua teimosia e orgulho arrastaram muitos aos seus pés, mas ela pisava em todos que lhe mostravam a chance de se redimir. Sua consciência era a única voz que ouvia. E geralmente ela não lhe dizia nada de bom.

A criatura a sua frente assumira a aparência humanóide, a fim de poder lidar com mais perfeição com aquele corpo frágil, enviado aos seus domínios.
Ela havia sido jogada, arrastada, e partida dezenas de centenas de vezes por cada pecado que cometeu quando estava viva.
Mas mesmo sendo tantos, a repetição de sua punição só aumentava.
Os demônios não se cansam de mal tratar e destruir tudo que um dia já foi belo.
Somente por que odeiam cada parte daquilo que uma vez foram designados para proteger. A sua própria rebeldia trouxe diante de si mesmos o preço. Que muitos não gostavam de pagar.

A moça estava de pé, com muita dificuldade, com lágrimas escorrendo pelo rosto, a criatura enorme se aproximou, fazendo de suas asas um manto, e juntou os braços finos da garota com uma mão só nas costas dela.
Olhou-a com todo o desprezo que sentia pelos humanos e sorriu.
Seu prazer era ver os humanos sofrerem. E sua tarefa lhe era altamente prazerosa.
A garota tentou desvencilhar-se das garras ossudas da criatura em vão, suas forças se esgotavam a cada lágrima, e ela só se mantinha de pé, por que o demônio a segurava.
Este, por sua vez, fez algemas nos pulsos dela. Algemas apertadas. Feitas da própria carne fétida dele que se restaurava a cada momento.
Soltou-lhe os pulso e ela caiu de joelhos no chão, choramingando. Ele puxou um cabo e o prendeu as algemas.
Ergeu a criaturinha frágil e ferida com seus dois braços enormes. E disse: "Você ainda tem forças?" - seu hálito era podre. E seus dentes afiados quase não eram visíveis aos olhos.
Ela nada disse, guardando forças para o que quer que fosse acontecer dali em diante.
O demônio apertou os braços da garota até ouvir dois estalos.
A garota gritou e esperneou. Lamentando seus braços quebrados.
Ele a soltou, e antes que seus pés chegassem ao chão o cabo a puxou, deslocando seus ombros.
Ela foi levada gritando até a escuridão, somente para ser torturada, de novo e de novo.
O demônio virou-se, ouvindo com prazer os gritos de dor da garota, e acenou para outro demônio mais adiante.
Seu trabalho não acabava.
E ele não se cansava.
Sua idéias eram infinitas.
E ele nunca cederia a imploração constante dos humanos dominados pela teimosia e o orgulho.
As noites infinitas que ele viu, e as que ainda viriam, não lhe davam nenhuma perspectiva de descanso.
Por que ele mesmo não merecia descansar.
E ele sabia, que seria destruído pelos seus, uma vez irmãos, no final.

-=Sarah=-