quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Trilha sonora - Requiem For A Dream

Ali, sentada na grama úmida, vendo as formigas traçarem seu caminho em meio a terra irregular e escorregadia, carregavam com perseverança folhas, e pequenos grãos.
Imersa na vida do formigueiro, pegou-se pensando em sua própria vida. O que estava carregando para casa?
Levava comida?
Levava suprimentos para o tal inverno?
Ou levava tudo que se devia deixar para trás?
Gotas grandes começaram a cair ao redor dela. Um slowmotion dramático.
Rodeada pelo ar umidecido, sentiu-se entorpecer, pensando nas coisas que tinha feito e dito à muito tempo atrás.
As sombras das memórias amargas arrepiavam sua pele. Estremecendo pela idéia de reviver aqueles momentos.

Trouxera para dentro de casa, os frutos da desconfiança, da crueldade, e do ódio.
Agarrados nas suas costas, os vultos da infidelidade, e da inveja.

Suas mãos tremiam, não pelo vento frio ou as gostas geladas, mas pela raiva que sentia de si mesma.
Cerrou os punho e sentiu suas unhas amassarem a palma da mão.
Viu as formigas grandes trazendo pedaços de um inseto maior para dentro do formigueiro. E ela se viu arrastando pedaços de pessoas boas para dentro do buraco negro que se tornara seu coração.
Uma escuridão vasta e assoladora, dominou o céu. E árvores de relâmpagos se apresentaram diante dela. Seus olhos os interpretavam como mensageiros de sua contuda.
Uma grande e iluminada árvore sem folhas, com centenas de galhos faiscantes, cada coração partido, cada palavra ácida.

O formigueiro agora estava apinhado de formigas desesperadas para se protegerem da chuva impiedosa.
Ela podia estender a mão por alguns momentos e proteger a entrada do formigueiro, ajudar os insetos a escapar da enchente inevitável.
Mas ela não tinha vontade nem de se proteger da chuva.
Se pudesse correira até a colina mais alta e chamaria um relâmpago para se alojar em sua cabeça.
E se pudesse subiria aos céus e quebraria todos os galhos da sua árvore iluminada demá conduta e caráter.
Eliminaria a si mesma.

Mas um toque quente em seu ombro a trouxe de volta a triste realidade que tinha de enfrentar. Com relutância, levantou-se do chão, virou-se para a direção daquele a quem a mão pertencia, e admirou novamente um resultado da sua árvora iluminada.
Uma lápide.
Nenhum raio tinha destruído aquela pessoa.
E nem ela, não... Ela não havia impedido aquilo.
Mas havia previsto.
Previsto.
Sentira o sofrimento daquela pessoa em sua própria pele, e deixou-se abater.
Assumiu qualquer culpa. Qualquer fardo. Qualquer punição.
Seu coração ansiava por justiça. E as palavras duras não o amoleciam.
Suas mãos geladas, tocaram a lápide molhada, e seu pé pisou numa rosa vermelha, esmagando a flor.
Um lamentaria a falta de delicadeza. Mas o máximo que ela fez, foi colocá-la em cima da lápide.
Ela respirou fundo, a mão ainda em cima da lápide e lamentou.
"Eu não queria te ajudar. Eu queria sofrer. Você cumpriu bem o seu papel. Mas eu não me sinto melhor. Ainda não sofri o bastante. Ainda à muito sangue em minhas mãos. Inclusive o seu."

Ela se afastou, o cabelo molhado grudando em seu rosto.
Ela e aquele que a acompanhava seguiram rumo a calçada de concreto, lendo nomes e mais nomes de gente rica, pobre, e irrelevante.

Parou por um momento desejando ser atingida por um raio. Mas não aconteceu.
Seguiu seu caminho frio, e ensanguentado até o carro, onde beberia o sangue de mais algum inocente idiota que aparecesse em seu caminho.

-=Sarah=-