sábado, 6 de março de 2010

Para tudo uma razão

Ela cruzou os dedos em cima dos joelhos e encarou a mesa de centro, dizendo que não sabia se a esperança nascia por último, ou se morria por último.
E argumentando sobre todas as outras coisas que teoricamente viriam antes da própria esperança, coisas estas que ela não conseguia identificar.
As cores quentes da sala lembravam-na de como um dia ela também fora quente.
Mas a tristeza e a saudade a consumiram, e a lembrança da partida dele, era a única coisa que a acompanhava mais do que si mesma.
A esperança que argumentara era a de que um dia ele voltaria, aqueles que se amaram antes, voltariam a ficar juntos.
Mas o cinza do tempo ao seu redor, não permitia-lhe ver as cores.
O céu deixara de ser azul, a sua cor favorita perdeu a intensidade.
O sabor mais apreciado perdera sua atração.
Seu mundo tornou-se pálido, e ela branca como a neve, sua pele empalideceu, a cor fugiu-lhe das mãos, assim como o calor.
Ela não adoecia, mas sentia-se doente.
Não passava fome, mas comia.
Não sorria. Nem achava graça.

A depressão deu o seu mais acolhedor abraço, e a sufocou dentro de si mesma e de suas próprias lamúrias.

Sentiu a perda de valor das pessoas que antes significavam tanto, tornarem-se estranhos diante de seus olhos, perguntava-se por que os achava tão importantes, que significado tiveram para ela.

A partida dele, a fez partir.
Ela começou a vive dentro de si mesma onde sua única companhia não a acompanhava.
A sombra invisível de sua própria dor era a única coisa familiar.

A Esperança era apenas uma semente, que ela não lembrava onde tinha conseguido.
E ainda sim, sua alma se perguntava se a plantava, ou a deixava ser comida pelos corvos da Tristeza.
Por enquanto, a semente jazia segura nas mãos da Incerteza. A única que seria capaz de decidir o que fazer com ela. A única que sabia o suficiente para manípula-la a seu favor.

Ela descruzou os dedos e encarou o anel como quem encara um ser desconhecido.
O anel confortável entre seus dedos, jazia com o nome daquele que partira, acariciando sua pele.
A marca do tempo deixara a pele mais clara, a lembrança do tempo que passou.
Ela não sabia onde ele estava, não sabia se estava morto, se voltaria, se ainda o amaria...

A Incerteza pegou a semente e a observou de perto, como quem examina um ser desconhecido.
E não encontrando motivos para plantá-la, ou ainda motivos para cultivá-la sem que a Dor a seguisse. Decidiu deixar a Tristeza fazer sua vontade.

Os corvos não comeram a semente. A ignoraram.

Para tudo uma razão.
Na pele dela, restava o cheiro da indignação. E na sua casa assombrações de desejos errados.
E ela insistia em repetir.

"Você será trazido de volta pra mim."

" Come back to me..."

-=Sarah=-