segunda-feira, 30 de junho de 2008

6G Terceiro Conto - Profissionais

Trilha Sonora -
30 Seconds to Mars

O relacionamento deles era estritamente profissional.
Ele sabia que ela era intocável. Mas ainda sim estava apaixonado por ela.
Ele fazia de tudo só para estar perto dela.
Ela parecia fria, mas ainda sim irresistível.
Seu perfume deixava rastros, seu andar era firme e bonito.
Uma flor que já tinha dono.
Ele se sentia mal por estar apaixonado por alguém com quem ele jamais teria qualquer tipo de relacionamento amoroso.
Mas ele podia sonhar.

Era o fim de uma reunião, e ele se ofereceu para juntar os papéis deixados em cima da grande mesa redonda. Ela estava lá para desligar os aparelhos usados naquela apresentação de slides.

Ele estava nervoso. Cada papel que tirava da mesa parecia pesar 10 kilos. E cada movimento que ela fazia parecia distribuir seu perfume ao seu redor. Ele já havia trocado palavras com ela. Nada relevante.
Falaram sobre...
O tempo.
O trânsito.
As férias.
O próximo feriado.
O café ruim da cafeteira.

A vida dele se tornou mais emocionante justamente por que ele só podia observá-la.
Era doloroso, mas ele não podia fazer nada.
Gostava da posição em que se encontrava.
Um feliz subordinado.
Ele não reclama, não pede aumento, faz hora-extra, não chega atrasado, não inventa desculpas, e não toma café.
Praticamente perfeito, se não fosse pelo fato de estar terrivelmente apaixonado pela pessoa errada.

Aqueles breves momentos naquela sala, que ele sabia que ninguém podia ver que se passava dentro dela, o fizeram divagar por alguns instantes.
Quão interessante seria se ele pudesse tê-la em seus braços, só por alguns momentos.
Ele não podia se lembrar se já a havia tocado. Ou a chamado pelo seu primeiro nome.
Nunca lhe deu carona, e também nunca apertou a sua mão depois de ter se apaixonado por ela.
Perdeu o passo e não prestou atenção no que estava fazendo. Quando percebeu o que estava acontecendo, tropeçou.
E por uma fantasia tola ele acabou fazendo-a cair também.
E caiu em cima dela.
Posição desconfortável.
Por alguns momentos, ele não sabia nem oque tinha acontecido, mas ao se erguer usando seus braços, viu o rosto dela, calmo e sério.
Ele sabia que parecia assustado e envergonhado para ela, e tratou logo de se desculpar. Levantou-se com algum pesar, pois sentiu-se entorpecido pelo perfume dela, sentí-lo assim tão de perto o fez perder a noção de tempo.
Assim que ele se pôs de pé a ajudou a se levantar e novamente pediu-lhe desculpas.
Ela sorriu e disse que ele estava corado, perguntou se estava doente, mas ele não achava que estava corado por causa disso.
Ele sorriu, coçou a cabeça, pegou os papéis rapidamente, entregou a ela e saiu da sala o mais rápido que pode.

O caminho até o banheiro foi mais longo do que ele se lembrava, ele tinha um flash atrás de outro, ele lembrou que pode tocar o cabelo macio dela, e sentir a fonte do seu perfume no seu pescoço.
Teve uma overdose de sensações que ele felizmente pode conter quando se olhou no espelho.
Arrependeu-se e ao mesmo tempo ficou feliz de não tê-la beijado.
Imaginou que sua saída rápida tenha deixado-a um tanto confusa, se ela mandasse ele ir pra casa ele sabiamente a obedeceria, pois não conseguiria parar de pensar na situação que sua própria tolice armou contra ele.

Ele ia ter que organizar seus sentimentos, para não arruinar tudo que tinha conseguido em função de agradá-la.
"Eu acho que preciso de férias."

O que ele imaginou acabou se concretizando, ele foi dispensado aquele dia.

E a volta para casa foi ainda pior.

-=Sarah=-

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