Trilha Sonora: The Calling
Era uma vez, um ser.
A única coisa que este ser sabia, naquele momento, é que existia.
Mas infelizmente para ele, ainda não estava pronto, para de fato existir.
A maioria destes seres começa sendo um ser etéreo.
Sem sexo, sem aparência, sem desejos, sonhos, ambições, emoções, sentimentos.
E membros.
Cada ser era encaminhado à um departamento onde eram possíveis de serem encontradas partes.
Como um gigante quebra-cabeças, este ser, apossou-se de ítens quebrados. E ítens bons.
Montou em si seus ossos, nervos, músculos, veias, tendões, e toda sorte de ítens da anatomia complexa e perfeita de um ser humano.
Escolheu sua cor de pele, a cor dos seus olhos, a cor dos eu cabelo, sua altura, peso, sorriso.
Escolheu por fim seu sexo.
E por mais estranho e diferente fosse ser 'real', escolher seu sexo não foi nem um pouco difícil.
Alguns 'seres', jogavam par-ou-ímpar na escolha de seu sexo. E não reclamavam do ítem que lhes era acoplado.
Depois de ter todo o seu corpo físico pronto e de pé e em movimento, ainda faltava aquilo que tornaria aquele ser existente, em vez de ser apenas 'real'.
Todos os seres foram imediatamente encaminhados a esta feira.
Cada barraca possuída coisas, objetos.
Estes objetos eram escolhidos a partir da sua cor, forma, e aparência.
Eles só tinham que escolher alguns objetos e entrar no supermercado logo atrás da feira.
Aparentemente, só se podia comprar o que se vendia no supermercado, se você tivesse objetos das barracas da feira.
E como estes seres não tinham personalidade ou qualquer senso que os fizesse discordar dessa condição, todos acabavam fazendo isso, obedientemente.
Justamente por que, ser real era só uma parte do trabalho.
Este ser em particular, era uma mulher.
Ela era bonita.
Alta, ruiva, dos olhos azuis mais profundos e encantadores que pode conquistar.
Suas pernas eram meio tortas para dentro, suas mãos eram finas e tinha unhas retas e perfeitas.
Um sorriso bonito, e um cabelo rebelde.
Ela não tinha sardas. Não pode conseguí-las, apesar de ter achado elas incrivelmente interessantes.
Sua pele era clara, mas não muito, ela não sofreria tanto ao sol como as outras ruivas tolas que decidiram ser tão brancas quando pudessem.
Este ser, entrou com o seu carrinho de objetos da feira dentro do supermercado.
Lá dentro ela estava sozinha.
Todos os outros haviam desaparecido.
O supermercado era todo dela, e ela precisaria de todo o tempo do mundo para escolher os ítens das prateleiras.
Cada objeto que ela pegou das barracas possibilitava a troca dele por
A) Um sentimento
B) Uma emoção
C) Um traço de personalidade
D) Um princípio, valor moral e caráter.
Com alguma sorte ela poderia pegar muitos do mesmo produto e ser muito ou ter muito daquilo que escolheu.
Ela havia escolhido algumas bonecas, e pode trocá-las por ser amável, responsável, carinhosa, e protetora.
Escolheu algumas bolas e trocou-as por ser saudável, e ativa. Mas não muito.
Ela conseguiu por as mãos num travesseiro, e conseguiu muito sono.
Entre outros ítens que ela não sabia o que eram, mas por que brilhavam, e tinha cores bonitas ela moldou sua alma, com coisas que ela nunca tinha visto, mas que se tornariam muito importantes para ela eventualmente.
Quando seu carrinho ficou vazio ela foi transferida para uma sala onde existiam muitos outros seres.
De fato existiam.
E ela se permitiu dar uma boa olhada em cada um deles.
Ela sentia que os encontraria de novo, quando eles todos existissem.
Seus olhos se prenderam em um ser existente, só ele e em mais ninguém.
Ele parecia ser tudo que ela podia enxergar.
E por um momento todos os outros desapareceram, e ela pode se sentar ao lado dele, ele tinha cheiro de pinho, olhos verdes, era alto e moreno, e tinha um olhar sério.
Ela sentia que ele tinha escolhido os ítens 'errados' por que ele levava dentro de si muita esperança pela dor, o sofrimento, a perda e a raiva.
Ele não sorriu. E mal se movia.
Após observá-lo por um tempo ele se virou para ela e disse: "Eu esperei muito tempo por você. Agora eu posso de fato existir. Agora que você existe para mim."
Ele se levantou e a encarou. Tentou fortemente guardar o sentimento que ela representava.
E desapareceu.
E ela ficou ali, sozinha. Vendo todos os outros seres sumirem. Esperando pacientemente para nascer, e encontra-lo, mais uma vez.
E então ela desapareceu.
E uma alma possuiu um corpo, e ela nasceu.
Com 4 anos de diferença daquele que a chocou imensamente.
Ela não lembraria de nada. Ela descobriria tudo sozinha.
Cada sentimento, em cada perídodo dasua vida, em fim formaria tudo que ela precisaria ser até encontrá-lo novamente.
Ela aprenderia, e cresceria.
Amaria, e odiaria.
Perdoaria, e se vingaria.
Tudo para poder viver ao lado dele, quando todas as dores dele formassem o ser quebrado que ele uma vez 'escolheu' inocentemente, ser.
E ela o consertaria.
Oh sim, ela o consertaria.
-=Sarah=-
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